Costumes

-Trabalhos agrícolas:
-Estercadas ou tiradas
-Desfolhadas
-Trabalhos ligados ao linho, lã ou burel
-Acartadas
-Ida ao molho, ao moinho,…

Qualquer destes trabalhos implicava ajuntamentos, hoje para este, amanhã para aquele, trabalho comunitário que, então, se vivia e fazia.

Tinham gosto por ajudar, por partilhar.

O trabalho era desenvolvido com gosto e alegria, cantigas e cantadas a acompanhar como que a compasso.

O serão era já vivido com antecedência, “falava-se” muito umas com as outras, uns com os outros, marcavam-se encontros discretamente, combinava-se o “bailarico”, como era chamado por aqui. As Cantadas eram um aviso para rapazes de outros lugares que assim ficavam a saber do tal serão.

A hora do “jintar”, da merenda e a ceia eram momentos passados cheios de boa disposição. Alguns, mais pobres, aproveitavam para “comer um nadita mais e melhor”.

As estercadas ou tiradas (denominação adquirida de acordo com o lugar) consistiam em levar à cabeça, em cestos, o estrume dos currais do gado para os campos. Era um trabalho quase da exclusividade das mulheres, ficando para os homens a parte do encher dos cestos.

As “’sfolhadas” envolviam a comunidade quase por inteiro. Hoje para uns, amanhã para outros, este espírito de comunidade impunha-se por si. O milho era assim separado do “folhepo” e levado para os canastros, alguns também comunitários. A palha arrumava-se para os gados, durante o Inverno.

As acartadas eram feitas pelas mulheres que transportavam, à cabeça, de tudo um pouco. Materiais para construção (tábuas, telhas), lenha (achas), toros de madeira…
Para erguerem o molho ou o carrego, iam uma de cada lado e outra ao meio para o colocarem em cima da cabeça.
As acartadas do milho destinado à oblata (sustento do pároco) dos vários lugares para residência paroquial, em Arões, eram feitas ao domingo de manhã.

“A mulher do cesto”
Assim era conhecida a vendedora de retalhos, das chitas, dos lenços “chineses” e outras miudezas que, transportando tudo à cabeça, num cesto de vime, percorria os vários lugarejos. Em jeito de pagamento recebia ovos, milho, …

“A gaseira”
A gaseira era o nome dado à mulher que vendia o “pitrol” ou o “gás”, como então se dizia.
Com umas “bilhas de folha” à cabeça, percorria os vários lugarejos da freguesia e freguesias vizinhas.

Os moinhos comunitários
Junto ao rio, os moinhos comunitários trabalhavam sem cessar. Frequentemente, as mulheres com os sacos de linhol à cabeça, cheios de milho na ida e de farinha no regresso, percorriam todos aqueles caminhos.
O pão de milho era precioso, sinal de fartura, fartura que nem sempre se verificava, tendo os mais pobres que recorrer aos mais afortunados.

“A barrela”
Com bacias de folha e o pau de sabão azul, nas corgas e certas zonas do rio, fazia-se a “barrela”. Lavava-se a “roupa de dentro”, a “de fora”, deixava-se a corar para melhor branqueamento. Alguma até secava por lá.

“Ida ó molho”
Ir ó molho era prática corrente doutros tempos.
Lenha, “roços” de carqueja, de queirós, de mato eram colocados em molho e transportados à cabeça, protegida pelo “bandil”. O bandil era como um “xale” rectangular de lã, tecido com a lã preta das ovelhas que servia para agasalho, transporte das crianças de colo e protecção do corpo quando transportava carregos. Só não ia ao pisão, como o burel.

Trabalhos em linho, lã, burel
Algumas famílias possuíam o tear, onde teciam o linho ou a lã. Quem não o tivesse, levava, então, à tecedeira. Porém, fiar ou executar todos os trabalhos ligados ao linho e à lã era tarefa de todas as famílias, enquanto se cantava e contavam histórias, se faziam rezas e mezinhas, rezas e mezinhas, tema para novas recolhas do grupo.

Outros trabalhos:
Resineiro
A recolha da resina foi muitíssimo importante, trabalhando nesta arte tanto homens como mulheres, eles com o trabalho da extracção, elas com o transporte. Embora de época mais recente, é uma actividade já em desuso, mas que se traduziu de capital importância económica para a região.

Minas
O trabalho nas minas do volfrâmio, no meio das montanhas da Chã, acima de Manhouce, foi também uma actividade com grande importância para a época.
Os homens ficavam inclusive alguns meses sem vir a casa.
As mulheres levavam-lhes, então, roupas e comida para mais uma temporada. Deslocavam-se a pé. Pelo caminho, cantavam para se distrair e aliviar o cansaço.
Daí, algumas modas do nosso repertório se referirem a estes trabalhos.

“Enterrios”:
Raparigas da “cetada”: eram “rogadas” as raparigas donzelas do lugar e/ou vizinhos, conforme os “haveres” do defunto, para transportar a “cetada” ao longo do caminho, incorporando o enterro na frente. Na cesta, habilidosamente “asada” com toalhas de linho e renda, iam colocados um ou dois litros de milho que, na missa de 7º dia, eram distribuídos pelos pobres da aldeia. Quanto mais abastado e importante fosse o defunto, maior era o número de donzelas da cestada.
Duas cestas, as da frente, levavam, não dois, mas cinco litros de milho, destinados a pagar os serviços do coveiro.

Merenda:
Durante os trabalhos agrícolas em que se impunha a ajuda-mútua, o “jintar” e a merenda eram levados para os “bocados” (campos), em cabanejos ou cestos de verga e todos comiam no local de trabalho. Só a refeição da noite, a “ceia”, era feita em casa.

“Serãos”:
Nos finais dos trabalhos da terra, faziam-se animados “serãos”, cantando e dançando, ao som da braguesa, do cavaquinho, da bandola, da harmónica e, mais tarde, da concertina. Viras, modas de unha e outras modas enchiam os ares de então.

Canto de Janeiras:
Desde tempos bem recuados que o canto de janeiras animava as noites frias de Inverno, do Natal até aos Reis, costume que se manteve sensivelmente até à década de 40 / 50. Imbuídos, de um profundo sentido de camaradagem, grupos de homens, solteiros ou casados, percorriam as suas aldeias, entoando, à porta das casas, cantigas religiosas ou pagãs, as primeiras desejando boas festas ou em louvor do Menino, as outras tentando amaciar o coração dos moradores, para que a oferta fosse mais generosa.
O bombo dava o mote, acompanhado da viola, da concertina, da bandola, os ares da noite enchiam-se com cantigas, a alegria espalhava-se…
E as pessoas acarinhavam os “chouriceiros”, a malga circulava e a chouriça ou o pedaço de carne da peça, tirado da salgadeira, passava para o saco do grupo para, no final, a “comezaina” ser farta, comezaina que durava enquanto duravam os haveres recebidos.
A guerra colonial e mudanças no estilo de vida levaram à paragem deste costume laico, sem deixar de ser religioso.

Cantadas:
Cantadas, Cantarolas, Cantigas ou simplesmente “vamos cantar”, denominação adquirida de acordo com a especificidade e tipicidade de cada uma das localidades da freguesia, mais não são do que entoações melodiosas, a três vozes, de versos muito próprios, associados a vivências quotidianas, tradutores de sentimentos e valores, retratos de simplicidade, de coragem, de um espírito de partilha e entreajuda fortemente enraizado, de comunidade.

Melodias entoadas apenas no feminino.
Formas encontradas pelas mulheres de “antanho” para animar, ou mesmo, aliviar, a labuta do dia-a-dia, suas canseiras, seus afazeres, …a dureza das deslocações (ida a pé a feiras, festas e romarias), para animar as suas festas, para atrair os rapazes, viver,…
Não necessitavam de grandes adereços, nem de quaisquer instrumentos musicais. Bastavam algumas mulheres e boa voz para logo se fazer uma cantada. Seis era o número ideal, duas em cada “voz”, mas também se faziam cantadas só com três ou com número bem maior.
Aí, “cada uma ia na voz que dava mais jeito. Se arranhava no alto, passava p’ó meio, s’inda arranhava no meio, passava p’ó baixo”.
Cantadas, a qualquer hora do dia, do nascer ao pôr-do-sol, prolongando-se serão adentro, aliviando canseiras, vencendo distâncias, transportando recados simples como “estamos aqui”…; mensagem que se sabia recebida pelos apupos e cantadas de outros ajuntamentos, noutros “bocados”, noutros lugares. “’stercadas ou tiradas, acartadas, ceifas e “’sfolhadas”, ida “ó molho” e espadeladas, …
Domingos e dias santos ou em dia de romarias…
no largo da fonte enquanto o caneco enchia…
e até na vinda da missa,… tudo era motivo e qualquer era a hora para se fazer uma cantada.

Matança do porco
Todas as famílias criavam o “cevado” de ano, para alimento próprio.
A matança do porco implicava ajuda mútua e eram combinados os dias para cada matança.

Festas e romarias:
Cada lugar ainda hoje vive a sua festa religiosa anual, embora em moldes diferentes de outros tempos. Mantém-se, no entanto, a comida melhorada, o encontro de familiares e amigos, a eucaristia e a procissão, participada por todas as pessoas do lugar e convidados. De diferente, a parte recreativa que, outrora, era animada pelas próprias pessoas que, ao som das violas, das concertinas e de outros instrumentos, faziam os seus bailaricos. A Sra da Laje, o S. Macário, a Sra da Saúde, a Sra dos Milagres, o S. Mateus, a Sra Dolorosa, foram sempre santos de grande devoção dos aroenses. O povo de Arões não faltava a nenhuma dessas romarias, pagando as suas promessas e participando nas cerimónias religiosas.
Marcavam antecipadamente os locais de encontro que anunciavam com cantadas e palmilhavam então, a pé, todo o caminho até ao local. Merendeiros à cabeça das mulheres, recheados com chouriça cozida, rojões do púcaro, bacalhau frito, ovos cozidos, broa e algumas azeitonas curtidas em casa, meia dúzia de figos secos,…, o garrafão pendurado no cajado ou na bengala do guarda-chuva do homem,… tamancos no saquito ou na mão, prontos e calçar apenas à chegada,…
Cantadas, conversas, …
Cumprir das promessas…
“Jintar” o farnel…
Participar nas cerimónias…
Novo encontro em sítio já combinado e viagem de regresso…
Cantadas…
Pequenas paragens, aqui e acolá, … bailaricos…
Continuação da caminhada…
Chegada a casa…
Até à próxima romaria.